Fraudes em Produtos de Origem Animal e Métodos de Detecção
Por GETIPOA
As fraudes em produtos de origem animal representam um grande desafio para a indústria de alimentos e para a
segurança dos consumidores. Essas práticas englobam adulterações, substituições indevidas de ingredientes,
rotulagem incorreta e adição de substâncias não permitidas, comprometendo a qualidade e a segurança alimentar
(Spink & Moyer, 2011). A identificação dessas fraudes é essencial para garantir a transparência na
comercialização e evitar riscos à saúde pública. Diversos métodos de detecção, como análises físico-químicas e
técnicas de biologia molecular, têm sido desenvolvidos para identificar irregularidades e garantir a autenticidade
dos produtos de origem animal (Ellis et al., 2015).
As fraudes podem ocorrer de diferentes formas, sendo uma das mais comuns a substituição de carne de espécies
de menor valor por espécies nobres. Um exemplo significativo foi o escândalo da carne de cavalo na Europa em
2013, no qual produtos rotulados como carne bovina continham, na verdade, carne equina sem o devido aviso ao
consumidor (Premanandh, 2013). Além disso, fraudes envolvendo laticínios são frequentes, como a adição de
amido para aumentar o rendimento de queijos ou a diluição do leite com água, o que reduz seu valor nutricional
e pode comprometer a saúde dos consumidores (Nascimento et al., 2018).
Outra fraude preocupante envolve a adulteração com substâncias nocivas para mascarar características
indesejáveis do produto. A adição de formol no leite para evitar a degradação microbiana ou o uso de corantes
ilegais para melhorar a aparência de pescados são exemplos dessas práticas. Essas substâncias podem apresentar
riscos toxicológicos significativos, levando a reações alérgicas e danos ao fígado e rins (Silva et al., 2020). Para
combater essas adulterações, órgãos reguladores como o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento
(MAPA) e a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) estabelecem normas rigorosas para a
fiscalização e o controle desses produtos (Brasil, 2021).
A detecção de fraudes em produtos de origem animal exige o uso de métodos analíticos avançados. Técnicas de
biologia molecular, como a reação em cadeia da polimerase (PCR), permitem a identificação de espécies
adulterantes em produtos cárneos e pescados. Essa metodologia é altamente sensível e específica, possibilitando
a detecção mesmo em amostras processadas e misturadas (Dooley et al., 2004).
Além da PCR, a espectrometria de massas tem sido amplamente utilizada para verificar a autenticidade de
produtos de origem animal. Essa técnica permite a identificação de compostos químicos específicos, ajudando a
detectar adulterações em leite, carne e mel. No caso do leite, a cromatografia líquida acoplada à espectrometria
de massas pode identificar resíduos de substâncias proibidas, como a melamina, utilizada de forma fraudulenta
para aumentar o teor proteico aparente (Ren et al., 2014).
Outro método eficiente é a espectroscopia no infravermelho próximo (NIR), que permite a análise rápida e não
destrutiva de amostras alimentares. Essa tecnologia tem sido aplicada na detecção de adulterações em mel e
laticínios, sendo uma ferramenta útil para o controle de qualidade na indústria (Ballin et al., 2019). A
combinação dessas técnicas com sistemas de rastreabilidade, como blockchain, tem se mostrado promissora para
garantir a transparência e a autenticidade dos produtos comercializados (Tian, 2017).
As fraudes em produtos de origem animal comprometem não apenas a qualidade dos alimentos, mas também a
segurança dos consumidores. A substituição indevida de ingredientes, a adulteração com substâncias proibidas e
a rotulagem fraudulenta são práticas que exigem fiscalização rigorosa e tecnologias avançadas para detecção.
Métodos como PCR, espectrometria de massas e espectroscopia NIR são fundamentais para identificar essas
irregularidades e garantir a autenticidade dos alimentos. Além disso, o aprimoramento das legislações e o
investimento em rastreabilidade são essenciais para minimizar os impactos das fraudes no setor alimentício. O
combate eficaz a essas práticas é indispensável para a manutenção da confiança dos consumidores e a
integridade da cadeia produtiva.
Referências
• BALLIN, N. Z.; VELASCO, M.; MORDENTI, A. Review: Laboratory Authentication of Meat and
Dairy Products. Food Control, v. 105, p. 105–119, 2019.
• BRASIL. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Manual de Inspeção e Controle de
Qualidade em Produtos de Origem Animal. Brasília, 2021.
• DOOLEY, J. J. et al. Detection of Meat Species Adulteration Using Real-Time PCR and
Oligonucleotide Microarrays. Food Control, v. 15, p. 627–635, 2004.
• ELLIS, D. I. et al. Point-and-Shoot: Rapid Quantitative Detection Methods for on-Site Food
Fraud Analysis – Moving out of the Laboratory and into the Food Supply Chain. Analyst, v. 140,
p. 2059–2073, 2015.
• NASCIMENTO, C. F. et al. Detection of Adulteration in Milk: A Review of Analytical
Techniques. Comprehensive Reviews in Food Science and Food Safety, v. 17, p. 658–680, 2018.
• PREMANANDH, J. Horse Meat Scandal – A Wake-Up Call for Regulatory Authorities. Food
Control, v. 34, p. 568–569, 2013.
• REN, X. et al. Detection of Melamine in Milk Using Liquid Chromatography-Tandem Mass
Spectrometry. Food Chemistry, v. 159, p. 1–7, 2014.
• SILVA, C. B. et al. Food Fraud in Brazil: A Review of Current Legislation and Reported
Cases. Food Control, v. 118, p. 107-362, 2020.
• SPINK, J.; MOYER, D. C. Defining the Public Health Threat of Food Fraud. Journal of Food
Science, v. 76, p. 157–163, 2011.
• TIAN, F. An Agri-Food Supply Chain Traceability System for China Based on RFID &
Blockchain Technology. Future Generation Computer Systems, v. 86, p. 393–402, 2017.
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