Tecnologia de Embutidos: Desafios na Padronização e Inspeção Sanitária
Por GETIPOA
A produção de
embutidos cárneos no Brasil representa uma importante atividade econômica no
setor de alimentos de origem animal, sendo responsável por uma ampla gama de
produtos consumidos em larga escala. No entanto, essa produção enfrenta
diversos desafios relacionados à padronização de processos e à garantia da
segurança alimentar por meio da inspeção sanitária. Tais desafios são ainda
mais evidentes em estabelecimentos de pequeno porte e em produções artesanais,
onde o controle higiênico-sanitário é muitas vezes deficiente, o que pode
comprometer a qualidade do produto final e a saúde do consumidor (BRASIL, 2004;
BRASIL, 2017).
A padronização na
tecnologia de embutidos envolve o controle rigoroso de variáveis como
composição da massa cárnea, tipo e calibração dos envoltórios, condições de
armazenamento e cocção. A ausência de parâmetros uniformes, principalmente na
produção artesanal, dificulta a obtenção de produtos com características
constantes, como textura, sabor e aparência. Estudos apontam que a variação no
calibre dos envoltórios naturais, por exemplo, interfere diretamente na
uniformidade e aceitação dos produtos, além de aumentar o risco de rompimento
durante o processamento térmico (CORRÊA et al., 2011).
Do ponto de vista
sanitário, a inspeção de embutidos deve abranger desde a recepção das
matérias-primas até o produto final, passando pela higiene dos manipuladores,
utensílios e ambientes. A presença de patógenos como Salmonella spp., Escherichia
coli e Staphylococcus aureus em
produtos inspecionados e comercializados indica falhas em pontos críticos de
controle e na implementação de Boas Práticas de Fabricação (BPF) (FRANCO &
LANDGRAF, 2008; SILVA JUNIOR et al., 2009). Ademais, coliformes termotolerantes
têm sido detectados com frequência em amostras de linguiça frescal, reforçando
a necessidade de medidas mais efetivas de higiene e fiscalização (SOUSA et al.,
2014).
A inspeção
sanitária, por sua vez, precisa estar acompanhada de critérios objetivos e
protocolos padronizados, principalmente em estabelecimentos com inspeção
municipal ou estadual, onde os recursos técnicos e humanos podem ser limitados.
A atuação do Serviço de Inspeção deve seguir diretrizes como as estabelecidas
na Portaria n.º 368/1997 e na Instrução Normativa n.º 4/2000, do Ministério da
Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), com foco na Análise de Perigos e
Pontos Críticos de Controle (APPCC) (BRASIL, 1997; BRASIL, 2000).
A produção de
embutidos exige padronização e controle sanitário para garantir a qualidade e
segurança dos alimentos. Apesar dos avanços normativos e tecnológicos, ainda
são comuns não conformidades relacionadas à higiene e à ausência de
uniformidade nos processos de fabricação, especialmente em pequenas indústrias
e produtores artesanais. A implementação de programas de BPF, APPCC e a
capacitação contínua
dos profissionais envolvidos são fundamentais para superar tais desafios. A
atuação rigorosa dos órgãos de inspeção, aliada ao uso de tecnologias de
padronização e monitoramento, representa um caminho viável para melhorar a
segurança dos embutidos no mercado brasileiro.
Referências
•
BRASIL. Ministério da Agricultura, Pecuária e
Abastecimento. Portaria n.º 368, de 4 de setembro de 1997.
•
BRASIL. Ministério da Agricultura, Pecuária e
Abastecimento. Instrução Normativa n.º 4, de 24 de março de 2000.
•
BRASIL. Ministério da Agricultura, Pecuária e
Abastecimento. Decreto n.º 9.013, de 29 de março de 2017. Aprova o novo
Regulamento de Inspeção Industrial e Sanitária de Produtos de Origem Animal
(RIISPOA).
•
CORRÊA, T.P.S. et al. Características físicas de
tripas naturais suínas utilizadas na produção de linguiça toscana. Revista
Ciência Agronômica, v.42, n.2, 2011.
•
FRANCO, B.D.G.M.; LANDGRAF, M. Microbiologia dos
Alimentos. 2ª ed. São Paulo: Atheneu, 2008.
•
SILVA JÚNIOR, E.A. et al. Avaliação
microbiológica de linguiças frescais produzidas artesanalmente. Higiene
Alimentar, v.23, n.172/173, 2009.
•
SOUSA, A.B. et al. Qualidade microbiológica de
linguiças frescas comercializadas no município de São Paulo. Revista Saúde
& Ciência, v.3, n.1, 2014.
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